Filtro de Água: Como escolher esse equipamento na maioria das vezes desnecessário?

A filtração da água é um procedimento muito conhecido a partir dos mais elementares processos naturais. Talvez por essa razão, a idéia de “filtrar a água” que se deseja consumir esteja sempre associada à melhoria de sua qualidade o que, na maioria das vezes, não corresponde à realidade. O objetivo dessa publicação é orientar as pessoas sobre a real aplicação de filtros de água para consumo humano, os diversos tipos de filtros e suas capacitações e, fundamentalmente, as situações corriqueiras em que o uso de filtros para água de consumo acaba piorando bastante sua qualidade ao invés de melhorá-la como se pensa. Como a COHESP é um laboratório de análises de água e não comercializa nenhum tipo de equipamento de filtração, nossa posição é absolutamente isenta e baseia-se exclusivamente em técnica e nas centenas de milhares de laudos de análises e pareceres emitidos ao longo de seus 25 anos de fundação.

1.  É mesmo necessário filtrar a água destinada ao consumo humano?

No que se refere ao processo de filtração da água destinada ao consumo humano, a maioria dos equipamentos disponíveis no mercado têm por objetivo a remoção de material particulado e, em alguns casos (não todos), a remoção de cloro residual livre (possível quando o equipamento possuir, além do elemento filtrante, um elemento de carvão ativado). Ocorre que o material particulado só poderá ser removido da água caso suas dimensões sejam superiores às dimensões da porosidade do elemento filtrante do filtro. O filtro nesse caso é, em última análise, uma barreira física à passagem do material particulado. Sendo assim, duas observações são de extrema importância: i) se a água não tiver material particulado ou, se o material particulado que ela eventualmente contenha for de dimensões menores que a porosidade do elemento filtrante do filtro, o mesmo não terá absolutamente nenhuma função; ii) na condição em que o elemento filtrante tiver porosidade com dimensões superiores às do material particulado da água, além de não ter ação benéfica, o filtro terá um efeito deletério sobre a qualidade da água “supostamente filtrada”, deixando a formação de biofilmes bacterianos nas paredes dos poros e servindo como um concentrador de bactérias na água final.

2.  Então existem casos em que filtrar é pior que não filtrar?

Sim, exatamente isso. Ao contrário do que se imagina, filtrar a água é um processo crítico e tem indicação precisa. Não se aplica a qualquer situação, muito pelo contrário. Dependendo da situação, filtrar a água é pior que não filtrá-la. Filtrar é um tipo de tratamento que se aplica quando se precisa corrigir características da água para a qual o filtro está capacitado. É como tomar um remédio ou fazer um procedimento cirúrgico: – não existe um único que sirva para todas as doenças. Pior que isso, se mal empregado pode trazer sérios riscos à saúde do paciente.

3.  Os diversos tipos de filtros: qual usar e como escolher?

A melhor maneira de pensar sobre esse assunto de escolha de filtros é entender os filtros como um equipamento que faz “um tratamento” na água. Pensar no filtro como um “remédio”, da forma como descrita acima. Pensando assim, fica fácil a analogia pois ninguém poderia chegar a uma farmácia perguntando “qual o melhor remédio para se comprar”. Sendo assim, não existe o “melhor filtro”. Existe o filtro que se aplica e aquele que não se aplica às características da água que se quer tratar. Vamos discorrer um pouco sobre os tipos mais comuns no mercado:

4.  Os filtros de barro

De longe são os piores, mais rudimentares e os menos indicados para a maioria das situações, embora ainda gozem de algum prestígio junto aos consumidores mais saudosistas. O filtro de barro, em geral, tem um elemento filtrante de porosidade muito grosseira (a chamada “vela”) e, portanto, só seria capaz de reter particulados igualmente muito grosseiros, praticamente visíveis a olho nu e que se precipitam no fundo de reservatórios e do próprio filtro. Como a água fica parada dentro da porção superior do filtro, a pressão que ele pode exercer sobre o elemento filtrante é mínima e, portanto, a porosidade do filtro tem mesmo que ser grossa pois, do contrário, a água não passaria de uma câmara para outra. No passado era o único dispositivo de que se dispunha e tinha seu efeito sobre águas muito “sujas” (grande quantidade de material particulado grosseiro). Hoje, não fazem sentido para a maioria das situações. Costuma- se apontar a prata coloidal como um agente oxidante (e, portanto bactericida) eficaz dos filtros de barro. Na prática, o efeito desinfetante da prata coloidal é bastante precário sobre as bactérias viáveis em água de consumo humano. Dentre outras razões, a capacidade de interação entre a camada de prata coloidal do filtro de barro e as bactérias da água é bastante limitada e só ocorre no filme de água próximo às paredes do mesmo. Com o tempo, as bactérias desenvolvem uma película denominada “biofilme” junto às paredes do filtro e lá se organizam como numa verdadeira trincheira, tornando o filtro de barro um grande viveiro para elas. Periodicamente, os usuários desses equipamentos lavam a “vela” com açúcar e lá percebem um acúmulo de material aderido e com coloração marrom, às vezes esverdeada. Acreditam que esse material é a sujeira que teria sido filtrada pela “vela” e que estava presente na água. Não é. Esse material é uma espessa película de biofilme bacteriano em desenvolvimento e aderido às paredes da “vela”, o mesmo fenômeno descrito acima e que ocorre também junto às paredes do filtro. A coloração marrom deve-se a algum particulado aderido ou algas em decomposição. Se for esverdeada, algas em desenvolvimento. Do ponto de vista de refrigeração da água, antes do advento das geladeiras domésticas, os filtros de barro eram bem cotados pois conseguem produzir uma diminuição de até 5 0C na temperatura interna da água fato que, para um dia de verão de 400C não traria grande benefício.

5.  Os filtros de pressão com elemento de carvão ativado

São uma evolução dos filtros de barro pelo fato de serem ligados à rede pública de abastecimento e, portanto, usarem a pressão dessa rede como uma forma de garantir a passagem da água por um elemento filtrante com porosidade mais fina, produzindo assim a retenção de particulados igualmente mais finos. Muitos desses equipamentos têm um elemento de carvão ativado cuja função é chamada de “cosmética”. O elemento de carvão ativado é capaz de eliminar o cloro residual livre adicionado na água para desinfecção, remover alguma concentração do flúor presente e reduzir a cor (desde que não produzida por metais). O importante é notar que esses equipamentos precisam ser retro lavados para que operem adequadamente e o elemento de carvão substituído periodicamente pois, com o tempo, acaba saturado e não terá mais nenhum efeito. Uma boa forma de se verificar se o elemento de carvão já está saturado é verificar a concentração de cloro livre na água filtrada utilizando um Kit para piscinas. Se a água estiver clorada é porque o elemento de carvão ativado já está saturado e deve ser substituído. Um erro muito grave – embora comum – que muitos cometem é instalar filtros de areia de grande porte na saída do hidrômetro para filtrarem a água destinada aos reservatórios. Primeiramente, esse filtro de areia pode ser inadequado pelo que já foi discutido acima. Além disso, muitos têm também o elemento de carvão ativado o que pode retirar o cloro da água antes de destiná-la aos reservatórios. É um erro gravíssimo armazenar em reservatórios grandes volumes de água sem cloro.

6.  Os filtros de osmose reversa

Hoje, talvez sejam os mais populares do mercado e os que têm realmente as capacidades mais refinadas. Na realidade o nome é inadequado pois não se trata de osmose e nem de reversa. Contudo, por operarem sob pressão mais elevada, são capazes de reter os particulados mais refinados bem como reduzir consideravelmente a concentração dos sólidos totais dissolvidos na água. Por terem membranas filtrantes bastante refinadas, são capazes de reter inclusive as bactérias mais frequentes em água tais como os coliformes totais e o grupo de bactérias heterotróficas, conhecido como “bactérias ambientais”. Esses equipamentos têm a desvantagem de só operarem se ligados à energia elétrica porque possuem uma bomba interna para produzir pressão na água contra a membrana filtrante (sem o que a filtração refinada não seria possível).

7.  Os filtros domésticos eliminam bactérias?

Como já se esclareceu, os filtros domésticos são barreiras físicas à passagem de partículas. Sempre que a partícula for menor que a porosidade do elemento filtrante ela vai passar por ele e o filtro passa a ser mais problema que solução. Para se ter uma ideia, uma bactéria do grupo coliforme (muito comum em água) só será retida por um elemento filtrante se sua porosidade for igual ou inferior a 0,45 µm. Nessa porosidade, o filtro necessita de um auxílio de pressão para que a água seja forçada através do elemento filtrante pois, do contrário, não haverá filtração. Por essa razão, é muito difícil que se consiga nos filtros domésticos uma retenção de bactérias. Eles não são projetados para essa finalidade. O ideal é fazer a desinfecção da água com cloro e, se for o caso, filtrá-la após a desinfecção.

Finalmente, atente para o fato de que os filtros não são sempre recomendados e, muitas vezes, até desaconselhados. Procure saber qual o tipo de tratamento de que sua água necessita, se é que ela necessita de algum tratamento. Muitas vezes a utilização de equipamentos para tratamento de água sem indicação técnica pode torná-la imprópria para o uso a que se destina.


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