“Potabilidade” é um conceito bastante amplo e que tem uma componente comercial e outra técnica. Comercialmente, os laboratórios de análises de água acabam entendendo uma análise de “potabilidade” como aquela que envolve alguns parâmetros físico-químicos e outros bacteriológicos e que servem como “indicadores” iniciais para se investigar se a água pode ser ingerida por seres humanos (potável). Contudo, esses parâmetros são, como dito, “indicadores”. Fazendo uma analogia com a área médica, numa primeira visita a um consultório o médico irá fazer exames “indicadores” de saúde tais como temperatura corporal e pressão arterial por exemplo. Se esses parâmetros estiverem alterados, ele irá recomendar exames mais complexos para investigar a causa. Com a água acontece a mesma coisa. Os parâmetros “indicadores” de potabilidade são aqueles que aparecem nos laudos que o mercado chama de “potabilidade”. Se todos estiverem dentro da norma, é provável que a água possa ser consumida por seres humanos. Contudo, é preciso fazer uma ressalva. Podem existir contaminantes críticos que não são analisados e nem identificados por esses parâmetros indicadores mais elementares. Por exemplo, os metais pesados, os pesticidas, os agrotóxicos. Isso significa que, mesmo uma água cuja análise de “potabilidade” está dentro da normalidade poderá conter contaminantes que não foram pesquisados nessa análise. Aí entra e cena o segundo conceito de potabilidade, que é o técnico. Na realidade, a Portaria 2914 do Ministério da Saude relaciona todos os padrões de potabilidade para água destinada ao consumo humano. Lá estão descritos, parâmetro por parâmetro, quais os limites aceitáveis para cada um deles. Dessa forma, a melhor maneira de se garantir a qualidade da água para consumo humano (que é o conceito mais amplo de “potabilidade”) é ter a certeza de que todos esses parâmetros estão dentro da normalidade. Obviamente e, até mesmo por questões de custos, não se recomenda realizar análises de parâmetros cuja ocorrência é praticamente impossível. Por exemplo, não se recomenda analisar rotineiramente agrotóxicos na água fornecida pela rede pública de abastecimento pois essa ocorrência não tem probabilidade significativa . Finalmente, entra em cena o senso crítico para que se pesquise, além dos parâmetros indicadores iniciais, outros parâmetros cuja ocorrência possa ser algo possível e relevante.
Na prática, se a análise de sua água apresentou todos os parâmetros indicadores de potabilidade dentro da normalidade, é muito provável que ela esteja apropriada para o consumo humano, especialmente se for uma água tratada e proveniente da rede pública. Apenas procure monitorá-la através de análises periódicas como medida de precaução que atingem também as condições dos reservatórios. Contudo, se a água for proveniente de poços, minas ou nascentes, recomendamos pelo menos uma vez ao ano uma análise mais detalhada dos demais parâmetros da Portaria 2914. Caso o poço seja de uso público, a legislação exige essas análises mais detalhadas periodicamente. Como visto, “potabilidade” não é um conceito exato ou “matemático” e exige uma parcela de bom senso para que seja bem aplicado.