Com o fenômeno da estiagem prolongada e a escassez no fornecimento de água para o consumo humano, as pessoas estão procurando diversas fontes alternativas para suprirem suas necessidades e uma delas é a água da chuva. Não existe nenhum problema com essa iniciativa, mas é preciso que tanto a captação, como a reservação e o uso sejam feitos com muito critério. Abaixo estão algumas informações que visam a desmistificar o uso da água da chuva, bem como orientar sobre os procedimentos de captação e reservação.
1) O que são as nuvens e o que é a chuva?
Ao contrário do que muito se pensa, as nuvens não são formadas por água no estado de vapor mas, sim, por água no estado líquido em finíssimas gotículas agrupadas. Por essa razão é que podemos ver as nuvens pois água em estado gasoso (vapor) não é visível aos nossos olhos. Isso significa que as nuvens são formadas por água líquida que cai sobre a superfície em forma de chuva quando essas finas gotículas adquirirem massa e volume suficientes para que isso ocorra. Portanto, a água da nuvem é exatamente a água da chuva mas com uma importante diferença: – quando a água da nuvem cai sob a forma de chuva, ela pode incorporar partículas e gases presentes na atmosfera e alterar suas características. Assim, a água da chuva difere da água da nuvem dependendo da atmosfera presente na região onde chover. Costuma-se dizer que a chuva “lava” a atmosfera exatamente porque, ao cair, pode incorporar tais partículas e gases então presentes na atmosfera por onde passou.
2) O que é água destilada? A água da chuva é uma água destilada?
As nuvens se formam por um processo de evaporação das águas de superfície (rios, lagos, oceanos, etc.) sob ação de temperatura elevada seguido de um processo de condensação sob temperatura mais baixa. Essa sequência de eventos (evaporação – condensação) é conhecida na química como destilação e no caso da água, obviamente, produz água destilada.
Como descrito acima, a água destilada é aquela produzida por um processo de destilação segundo o qual uma porção de água é evaporada por elevação de temperatura e o vapor assim produzido é resfriado e condensado, voltando a ser água em estado líquido. Essa água é a água destilada. O importante é notar que quando a água evapora por elevação de temperatura, apenas as moléculas de água passam para o estado de vapor. Isso significa que, idealmente, a água destilada produzida pela condensação do vapor de água não deveria conter nenhum soluto dissolvido e seria apenas “água pura”. Na prática, isso não acontece de forma ideal, pois o vapor de água ao se elevar até as nuvens e a água da chuva ao retornar à superfície pode impregnar-se com outros compostos presentes na atmosfera, deixando de conter apenas moléculas de água.
3) A água destilada pode ser consumida por seres humanos?
A resposta é sim. Embora muita gente ainda acredite que a água destilada poderia trazer prejuízos à saúde humana se ingerida, essa ideia não tem nenhum fundamento científico. Muitos acreditam que a água destilada poderia desidratar as células dos tecidos humanos por um processo de osmose, mas isso é um total absurdo e demonstra total desconhecimento sobre a fisiologia humana. A água destilada pode ser consumida por seres humanos sem nenhum prejuízo à saúde. O que ocorre é que, se ingerimos água destilada, estaremos ingerindo apenas moléculas de água, desprezando a possibilidade de ingestão de sais minerais que porventura pudessem estar presentes no líquido ingerido. Contudo, esse eventual prejuízo é desprezível se mantivermos uma dieta normal pois a quantidade necessária de minerais de que necessitamos diariamente são fornecidos pelos alimentos que ingerimos e não pela água que bebemos. Embora muito se fale sobre tema, as concentrações de minerais fornecidas pela água são irrisórias se comparadas às de uma dieta alimentar adequada.
4) E a água da chuva? Pode ser consumida por seres humanos?
Esse é um outro problema, tendo em vista que a água da chuva pode não conter apenas moléculas de água mas também outros compostos presentes na atmosfera por onde ela “passou”. Além disso, duas etapas críticas para quem pretende usar água de chuva em qualquer aplicação são a sua captação e seu armazenamento. Quando a chuva cai, geralmente seu destino na superfície serão calhas ou outros leitos onde poderá haver contaminantes que ficarão dissolvidos na água. Além disso, o armazenamento da água da chuva, qualquer que seja a aplicação que se pretenda lhe dar, necessariamente deverá ocorrer em reservatório fechado e devidamente clorado, mantendo a concentração de cloro residual livre na faixa de 1,5 a 3,0 mg/L. Além disso, dependendo do uso que se pretenda dar à água da chuva captada e armazenada da forma descrita acima, recomenda-se uma análise laboratorial para que se conheça o perfil físico-químico da mesma e se possa balisar tecnicamente seu uso possível.